OPINIÃO | ZERO HORA | PÁGINA 2 (CADERNO CAMPO E LAVOURA)
Por Rodrigo Daniel Feix e Sérgio Leusin Júnior
Por um longo período, o Rio Grande do Sul foi conhecido como celeiro do Brasil. Mesmo com o aumento da importância da indústria e dos serviços na composição da renda, a agropecuária jamais deixou de ocupar um papel central na dinâmica de desenvolvimento do Estado. Participa com cerca de 9% do Valor Adicionado Bruto estadual, mas sua influência no conjunto da economia é superior. Isso porque a agropecuária interliga-se com setores a montante — que fornecem insumos, máquinas e implementos — e a jusante — responsáveis pelo processamento (indústrias de alimentos e fumo) e pela distribuição da produção.
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Recentemente, o Brasil se beneficiou da valorização dos preços dos alimentos no mercado internacional. O agronegócio do RS foi duplamente favorecido pelos incentivos à ampliação da oferta de grãos no país. Primeiro, porque mesmo com a fronteira agrícola consolidada, os agricultores foram capazes de expandir a produção, principalmente via ganhos de produtividade e substituição de culturas. Segundo, porque a ampliação da safra nacional e a capitalização do agricultor, em um cenário de crédito farto e barato, estimularam a absorção de novas tecnologias. Isso impulsionou a indústria gaúcha de máquinas e implementos agrícolas.
Apesar da agropecuária ter se expandido em outras regiões do país, o Estado ainda é protagonista em uma série de produtos. Na agricultura, esse é o caso do arroz, da maçã, do fumo, da uva, do trigo e da soja. Na pecuária, os destaques são a criação de frangos e suínos e a produção leiteira. Com o crescimento da demanda externa por alimentos, uma parcela cada vez maior da produção local é exportada. Em 2014, as exportações da agropecuária e da agroindústria somaram US$ 12,2 bilhões, o que equivale a 65% das vendas do RS.
O menor volume de negócios na Expointer revela um quadro aparentemente contraditório, mas justificável. De um lado, a última safra estabeleceu recordes de produção e foi comercializada a preços elevados em razão da desvalorização do real frente ao dólar. De outro, persiste o quadro adverso à indústria de máquinas e implementos, resultado de um comportamento mais seletivo dos produtores. O cenário de deterioração das condições de crédito, de elevação dos custos de produção e de incerteza quanto à receita futura criou um ambiente menos favorável a investimentos.
No curto prazo, os principais desafios da agropecuária gaúcha são evitar o contágio do quadro recessivo nacional e preparar-se para um cenário menos favorável no mercado externo. Para tanto, será fundamental continuar elevando a produtividade. Estruturalmente, apresentam-se oportunidades para a integração das cadeias de proteínas (vegetal e animal), com maior produção de carnes para os mercados asiáticos. O aproveitamento das vantagens locais, a gestão profissional do negócio e a atualização tecnológica continuam sendo determinantes do sucesso no campo e, por consequência, do crescimento da economia gaúcha.