Facebook
Contato: (51) 99322.7144
thais@thaisdavila.com.br

ZH: Efeito cascata na indústria de carnes

CAMPO E LAVOURA | ZERO HORA | PÁGINA 6

Com menos milho produzido, RS tem maior necessidade de importar de outros Estados para abastecer o mercado

O recuo da área plantada de milho não gera mudanças apenas da porteira para dentro. Mesmo com aumento da produtividade por hectare, a grande redução no tamanho da área destinada à cultura nas lavouras deve levar a uma diminuição da safra no Rio Grande do Sul, o que causará reflexos diretos nas indústrias de aves, frangos e suínos, que têm o cereal como base de alimentação para os animais.

Clique aqui para acessar a matéria na página.

Conforme levantamento divulgado pela Emater no início do mês, a produção estimada para a safra de verão é de 4,4 milhões de toneladas. Como a demanda de milho do Rio Grande do Sul é de cerca de 6 milhões de toneladas, a entidade calcula que mais de 1,5 milhão de toneladas terá de ser importada de outros Estados.

– Também é preciso considerar que muito do milho produzido na região localizada próximo da fronteira entre o Estado e Santa Catarina não fica no Rio Grande do Sul. Vai para outros mercados, como o oeste catarinense – lembra Tarciso Minetto, secretário estadual de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo.

O custo do transporte para importar castiga as indústrias, e a saca de milho vinda do Centro-Oeste, por exemplo, chega ao Sul valendo entre R$ 27,50 e R$ 30, dependendo da distância do frete. A despesa logística para trazer o grão de outros Estados – Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul são os principais fornecedores – encarece, consequentemente, os produtos gaúchos processados e que chegam às prateleiras dos consumidores.

DÓLAR ALTO TAMBÉM CAUSA IMPACTO

De acordo com Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Produtos Suínos do Estado (Sips), a importação para o Rio Grande do Sul deixa o custo quase 10% mais caro em comparação com Santa Catarina, por exemplo. Os dois Estados são os maiores produtores de carne de frango do país.

Apesar de o vizinho trazer de fora o milho que consome, a distância deles para o Centro- Oeste é menor, o que reflete no ganho em competitividade pelo menor custo logístico.

– O milho é um insumo básico. Até podemos adicionar sorgo, mas não se pode falar em substituto – lamenta Kerber.

O dólar mais alto também causa interferência. Mesmo com o momento de grande oferta no país – no Centro-Oeste, há estoque diante das colheitas volumosas da safrinha do grão –, a cotação tem crescido. Uma das explicações está no câmbio e no bom momento das exportações do país. A moeda americana ultrapassou a barreira dos R$ 3,80 em setembro, uma alta de mais de 70% no acumulado em 12 meses.

– São preços altos, e muitas indústrias estão encurtando os estoques. Quem tem pouca capacidade de estocagem, entretanto, está tendo de se sujeitar ao mercado – analisa Kerber.

O milho mais caro eleva custos, mas não elimina, necessariamente, as margens da indústria, em especial as que exportam carne de frango e de suínos. As empresas comercializam para o Exteior em uma quantidade mais expressiva, o que também empurra para cima, em contrapartida, os preços dos produtos vendidos no mercado brasileiro.

Ração barata como opção

Com o custo da alimentação de animais subindo, o investimento em milho tem sido uma aposta de pecuaristas, que reservam uma parte da propriedade para plantar o cereal. É a alternativa encontrada para suprir o déficit da produção e escapar das despesas logísticas de trazer sacas de grão de outros Estados. A iniciativa é bem vista por especialistas por também ajudar a recuperar as pastagens degradadas e diversificar a produção.

– É uma prática positiva. Quem já vinha trabalhando com esta integração sai beneficiado, sem dúvida – diz Cláudio Doro, da Emater.

Para o engenheiro agrônomo da Cotrijal Robinson Braboza, o importante é o produtor fazer um planejamento e não deixar para tomar decisões só perto do plantio.

– Mesmo quem utiliza o milho cultivado na propriedade como fonte de alimentação animal também pode obter melhores resultados, com custos mais baixos, se estiver preparado – afirma.