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ZH: Certificado que pode valer novos mercados

CAMPO E LAVOURA | ZERO HORA | PÁGINAS 4 e 5

Com segunda maior produção no Brasil e reconhecido internacionalmente como livre de peste suína clássica, Rio Grande do Sul quer expandir negócios, mas ainda não consegue acesso a grandes mercados mundiais por manter vacina contra aftosa

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Ao colocar as mãos no certificado de zona livre de peste suína clássica, o Rio Grande do Sul ganhou destaque na vitrine internacional e também se credenciou a abocanhar embarques para países que já compram carne brasileira de Estados que não contam com o mesmo status. Para acessar novos e mais exigentes mercados, no entanto, a exemplo de Santa Catarina, o caminho será bem mais longo.

As produções gaúcha e catarinense de suínos foram as únicas no Brasil a receber a certificação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), entregue também a outros 23 países pela primeira vez no fim de maio, em Paris, França.

Apesar de comemorado, o status não será suficiente para o Rio Grande do Sul entrar nos grandes mercados mundiais, como Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul. Todos livres de febre aftosa sem vacinação, os países exigem o mesmo status de seus fornecedores. Sem vacinar o rebanho bovino desde 2000, Santa Catarina obteve a certificação para exportar para os americanos e os japoneses em 2013.

– O certificado comprova que temos um sistema de defesa sanitário confiável, validado internacionalmente. Mas, para avançarmos, a retirada da vacina contra aftosa é determinante – avalia Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do RS (Sips) e presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa).

Mas isso não quer dizer, segundo Kerber, que o Rio Grande do Sul não terá benefícios com a certificação recebida recentemente. Os ganhos, além da visibilidade no mercado externo, poderão vir de oportunidades de negócios com países que passem a exigir a nova certificação para futuras compras. Assim, mercados que importam hoje de Estados brasileiros que não têm o status poderão migrar para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A carne suína é quarto item na pauta de exportações gaúcha, somente atrás da soja, das aves e do tabaco. No ano passado, o Estado exportou 149,8 mil toneladas de carne, somando US$ 463,2 milhões. O volume vendido para mais de 60 países representou 20% da produção do RS, que chegou, em 2014, a 740 mil toneladas. Para Rui Vargas, vice-presidente de suínos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é possível ir além.

– A carne suína é a mais consumida no mundo, mesmo não entrando em mercados árabes. Exportamos qualidade, sanidade e sustentabilidade – diz Vargas, referindo-se a investimentos em biossegurança.

VISIBILIDADE E STATUS ATRAENTE

Com sistema de integração consolidado, onde os criadores têm contratos de fornecimento para a indústria, o Rio Grande do Sul começou a reorganizar o sistema de defesa sanitária em 2005, em ações conjuntas entre setor veterinário oficial, empresas privadas e Fundesa.

– Queremos manter o que foi conquistado e buscar outros status sanitários – diz Ildara Vargas, secretária adjunta da Agricultura.

Apesar do consenso de que a retirada da vacina da aftosa seria importante para acessar novos mercados, a Associação dos Criadores de Suínos do Estado (Acsurs) vê a questão com cautela:

– Se chegarmos à conclusão que temos condições e segurança para isso, perfeito. Caso contrário, quem pagará a conta de uma eventual contaminação dos animais será o produtor – alerta o presidente da entidade, Valdecir Folador.

joana.colussi@zerohora.com.br

Sanidade garantida pelo produtor

O status sanitário alcançado pelo Rio Grande do Sul na produção suína tem o criador como protagonista. A biossegurança da atividade é garantida nas propriedades por meio de cuidados que vão do manejo dos animais ao trânsito de pessoas.

Com produção de 45 mil suínos por ano, entre fêmeas reprodutoras e leitões, a Granja Fontana, em Charrua, no norte do Estado, segue à risca medidas para evitar a entrada de vírus ou doença. Com 30 funcionários, só recebe animais de outras granjas certificadas (livre de agentes patológicos), mantém barreira de vegetais para impedir a circulação de vírus vindos de fora e faz tratamento correto de dejetos.

– A principal forma de transmissão de doença é de suíno a suíno. Mesmo assim, controlamos o acesso de pessoas e de outros animais silvestres que representem algum risco – explica o veterinário Jean Marcelo Fontana, 36 anos, que administra a granja ao lado pai Vilseu Fontana, 66 anos, e do irmão Vilseu Fontana Júnior, 32.

Toda a produção da família é destinada à Cooperativa Tritícola de Erechim (Cotrel), filiada à Cooperativa Central Aurora Alimentos, uma das principais exportadoras de carne suína no país. Por demanda da cooperativa catarinense, a Granja Fontana está com projeto pronto para ampliar em 30% a capacidade de produção de leitões. A obra, orçada em R$ 1,5 milhão, será executada por meio da linha de financiamento Inovagro, voltada à modernização de instalações na produção de suínos, aves e leite.

– O investimento é estimulado pela garantia de venda – conclui Fontana.

Consumo interno estagnado e instabilidade internacional

Com consumo per capita anual de 14,7 quilos no mercado interno e exportações dependentes da instabilidade de concorrentes, a carne suína brasileira busca maior espaço na mesa do consumidor e importadores fiéis.

Hoje, a carne suína é a terceira mais consumida no Brasil, atrás da de aves (42,7 quilos per capita ao ano) e da bovina (40 quilos per capita ao ano).

– As vendas externas ainda são muito instáveis, não podemos fica na mão de alguns países. Precisamos abrir novos caminhos – destaca Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Em 2014, 37,8% dos embarques de carne suína brasileira tiveram como destino a Rússia, que naquele ano embargou a importação de produtos da União Europeia e dos Estados Unidos.

Além da dependência de determinados mercados, a produção convive com a estagnação de preços, devido ao consumo estabilizado. E enquanto a economia estiver retraída, não há previsão de aumento na procura, mas sim de redução.

– O momento é de cautela. Somente deve ser produzido aquilo que será vendido – pondera Rogério Kerber, diretor-executivo do Sips.

O que é peste suína clássica?

Conhecida também como febre suína ou cólera dos porcos, é uma doença altamente contagiosa e fatal aos suínos.

Em animais jovens contaminados, a taxa de mortalidade pode chegar a 90%. O último registro da doença no Rio Grande do Sul ocorreu em 1991, em Arroio do Meio.

No ano seguinte, o Estado suspendeu a vacina. A mesma medida foi tomada em todo o país em 1998.