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ZH: Agora, o Estado depende do país

ECONOMIA | ZERO HORA | PÁGINA 20

Com o fim do período em que o campo costuma ajudar o Rio Grande do Sul a se descolar das taxas nacionais, o Estado passará agora pelos meses em que os níveis de atividades são influenciados de forma mais direta pela conjuntura do país. Amortecido pela agropecuária, que cresceu 15,6%, o PIB gaúcho do segundo trimestre caiu 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado, mostrou ontem a Fundação de Economia e Estatística (FEE). Na mesma comparação, o recuo no Brasil foi de 2,6%.

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Com os demais setores em terreno negativo, a retração amenizada entre abril e junho é atribuída à safra de soja. Embora para o RS não seja o parâmetro mais utilizado devido à sazonalidade, o empurrão da lavoura garantiu crescimento do PIB em 0,2% ante o período de janeiro a março. No Brasil, a queda foi de 1,9% no segundo trimestre.

– Os números indicam que, não tendo safra, são as outras tendências que que vão determinar as taxas dos próximos trimestres – observa o coordenador do núcleo de contas regionais da FEE, Roberto Rocha.

A recessão instalada no país, que afeta atividades como indústria e serviços, com maior peso na economia, não traz boas perspectivas. Com a nova retração confirmada ontem, o Estado completou cinco trimestres consecutivos de PIB em queda e caminha para chegar a sete seguidos, batendo a marca de seis observada entre 2004 e 2005, anos afetados por seca. Nem mesmo os efeitos do dólar valorizado, que favorecem as exportações e ajudaram a indústria de celulose e petroquímica no segundo trimestre, parecem ser capazes de resgatar as fábricas gaúchas da crise.

O presidente da FEE, Igor Morais, admite que a tendência é de PIB negativo em 2015 e lembra que, apesar de o campo costumar fazer pontualmente o Estado desgarrar das taxas nacionais, em regra “o Rio Grande do Sul é uma fotografia 3×4 do que acontece no Brasil”.

– A indústria gaúcha tem uma abertura comercial maior (em relação a exportações), mas ainda vendemos muito para o nosso principal parceiro comercial, que é o Brasil – explica Morais.

PARCELAMENTO DE SALÁRIOS PODE PREJUDICAR ATIVIDADE

Para o professor de economia da PUCRS Leandro de Lemos, a tendência é de que, sem a grande influência da agropecuária, o PIB do terceiro trimestre sofra um tombo maior, entre 1,8% e 2%. Nos últimos três meses do ano a queda seria menor, em torno de 0,8%. O Estado fecharia 2015 com uma retração por volta de 1,5%, não tão aguda quanto a projetada para o país que, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, seria na ordem de 2,4%.

Mesmo que a conjuntura nacional de inflação persistente, desemprego crescente, juro alto, restrição de crédito e redução da produção industrial seja a partir de agora o fator predominante para determinar a dinâmica da economia gaúcha até o final do ano, um componente local pode influenciar de forma ainda mais negativa o desempenho do comércio, englobado pelo setor de serviços. Para Lemos, o parcelamento de salários do funcionalismo do Executivo – que atinge diretamente cerca de 300 mil pessoas – tem o potencial de afetar o resultado do PIB:

– Os setores de serviço e varejo são diretamente impactados e isso também contamina a cadeia produtiva. Porto Alegre é um polo de consumo, mas isso se capilariza para outras cidades que fornecem produtos e matérias-primas.

Uma das causas do parcelamento dos salários, ao lado do aumento da folha, a queda da arrecadação de impostos ocorre há cinco trimestres seguidos no Estado. A principal razão, sustenta a FEE, é o encolhimento da indústria, primeiro setor a sentir a crise, que retrai há cinco trimestres consecutivos.