ENTREVISTA | JORNAL DA MANHÃ | PÁGINA 6
Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), Rodrigo Lorenzoni, concede entrevista ao Jornal da Manhã sobre as ocorrências de mormo no estado, doença letal para cavalos e que pode atingir humanos.
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Qual a principal preocupação do Estado com relação ao mormo?
- Nos aproximamos dos festejos farroupilhas, grande momento de celebração em nosso Estado. Em muitas localidades os acampamentos e eventos já estão acontecendo. A tradição que une os gaúchos envolve diretamente o cavalo, animal-símbolo do Rio Grande do Sul. Os equinos, que fazem parte da história do povo gaúcho, vêm enfrentando um temor jamais visto. O fantasma do mormo rondando nossas estâncias e rodeios. A enfermidade, até então pouco conhecida do grande público, é falada em todos os recantos. As pessoas querem saber onde está a doença, como prevenir sua chegada, se há perigo.
O que isso representa em termos de riscos?
- Os riscos estão presentes pois o mormo tem fácil transmissão entre equinos. Entretanto, como zoonose, ou seja, doença de animais que pode ser transmitida ao homem, o mormo oferece baixo risco – a transmissão de equino para humano ocorre em situações bastante específicas. A bactéria que provoca a enfermidade é muito poderosa dentro do organismo do cavalo. Fora do ele, no ar e em superfícies de contato, é de fácil combate.
Qual o papel do Conselho dentro deste cenário?
- O Conselho Regional de Medicina Veterinária é parceiro de quem trabalha sério e comprometido com o bem-estar e a saúde animal. Por isso, apoia as medidas implementadas para o controle e o combate ao mormo. Só com vigilância e responsabilidade compartilhada poderemos superar este lamentável episódio e preservar a vida de muitos equinos no Rio Grande do Sul.
O CRMV-RS atua nestes eventos que contam com aglomeração de animais de que forma?
- De várias formas. A mais conhecida é registrando e treinando profissionais para atuarem como Responsáveis Técnicos. Todo o evento precisa ter um RT contratado para garantir o cumprimento das regras para sua realização – desde o transporte de animais até a oferta de água e espaço para acomodação. Esta atividade é fiscalizada pelo CRMV. Além disso, o Conselho conta com a Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal, que promove debates e analisa casos de denúncias de maus-tratos sempre com o olhar técnico e, no caso específico das provas e rodeios, verificando as particularidades de cada competição.
Em atividades que contam com grande aglomeração de animais, como deve ser o procedimento?
- É preciso ter em mente que em um evento com mil animais, se apenas um não apresentar o resultado do exame – e estiver contaminado – o risco é enorme. Então, além de apresentar a documentação exigida, cada um tem que fazer o papel de fiscal, orientar e verificar se o vizinho ou amigo realizou os procedimentos. No caso de observar algum sintoma nos animais, procurar imediatamente o serviço oficial para fazer a comunicação. É importante sempre contar com a orientação de um médico veterinário. No site do Conselho, temos o Manual de Boas Práticas em Sanidade e Bem-Estar Animal em Eventos Equestres que aborda o assunto de uma forma bem abrangente. A publicação é gratuita e pode ser acessada pelo site www.crmvrs.gov.br.
Apesar do baixo risco do mormo acometer humanos, de que forma as pessoas devem se prevenir?
- Mesmo com a transmissão sendo menos frequente em humanos, é preciso ficar de olhos bem abertos. Como o grande temor provocado pela doença é a alta capacidade de contágio entre cavalos é preciso tomar os cuidados necessários. O mormo não tem tratamento e nem cura e a recomendação das autoridades é a eutanásia do animal infectado. É preciso ficar alerta aos sintomas, que são basicamente prostração, corrimento nasal, nódulos nas mucosas e febre alta nos estágios mais avançados.
O RS ainda pode ser considerada uma área livre da doença de mormo? De que forma os produtores estão investindo em prevenção?
- Até o episódio de Rolante, o Rio Grande do Sul era área livre da enfermidade. Por isso, só agora existe a necessidade de realização de exames para o trânsito de animais. O aumento da vigilância é fundamental bem como seguir as recomendações do serviço oficial. A guia de trânsito (GTA) só deve ser emitida acompanhada do laudo negativo. Quem possui um cavalo e preza a vida do seu animal deve realizar o exame sem objeções – ou então deixar o animal na propriedade.
Qual a importância da realização desse exame?
- A regra é clara e tem como objetivo a sanidade do plantel equino gaúcho e da sociedade como um todo.
Qual sua opinião sobre o cancelamento do tradicional Desfile Farroupilha em algumas cidades do Rio Grande do Sul?
- As lideranças de localidades que cancelaram os desfiles optaram por uma solução mais segura. Mas isso não quer dizer que os locais onde os eventos estão mantidos sejam uma porta para a doença desde que todos tomem os devidos cuidados. É preciso que cada um seja responsável e fiscalize o que fazem seus companheiros. Se em um evento com mil cavalos apenas um estiver contaminado a situação pode ficar muito grave.