ECONOMIA | JORNAL DO COMÉRCIO | PÁGINA 11
Dirigentes do setor de carnes do Rio Grande do Sul manifestaram preocupação com o início da greve dos fiscais federais agropecuários, deflagrada nesta quinta-feira. O Rio Grande do Sul exporta – anualmente – mais de 700 mil toneladas de carne de frango, 150 mil toneladas de carne suína e quase 100 mil toneladas de carne bovina. “O setor embarca produtos diariamente para dezenas de países. Um único dia de paralisação já provoca grandes impactos”, explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), Rogério Kerber.
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O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, afirma que as empresas não têm condições de suportar mais um entrave. “Os reflexos são muito rápidos, pois implicam em redução de abates, perda de logística contratada e não atendimento de contratos internacionais”, lamenta Freiberger. Segundo ele, as indústrias estão tomando pé da situação mas o anúncio de greve por tempo indeterminado traz muita insegurança para o setor. “É urgente que se encontre uma solução.”
O setor de proteína animal vem enfrentando uma série de obstáculos que prejudicam a competitividade. O salário-mínimo regional maior do que em outros estados e custos de diversos itens da planilha – como energia elétrica – mais altos, fazem com que os investimentos no segmento gaúcho sejam cada vez menores. Além disso, a perspectiva de maior carga tributária, tanto federal quanto estadual, deixa o segmento de produtos de origem animal em grande desvantagem. O diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes no Estado, Zilmar Moussale conclui que “a greve vem tornar a situação insustentável”.
No Estado, a greve nacional dos fiscais federais agropecuários teve adesão da maioria dos servidores filiados à Delegacia Sindical da Anffa Sindical no Rio Grande do Sul (DS-RS). Nos quase 200 estabelecimentos com inspeção federal registrados no Estado, a paralisa- ção supera 80%. “Nos estabelecimentos de abate de aves suínos e bovinos, os fiscais estão realizando a inspeção das carcaças, mas não estão emitindo os certificados. Desta forma, os produtos não podem sair das plantas”, explica o diretor de Comunicação da DS-RS, Marcelo Mazzini.
Também estão paralisados os fiscais federais agropecuários que atuam nos 10 postos terrestres de fronteira, no porto do Rio Grande e no Aeroporto Internacional Salgado Filho. “Estamos inspecionando apenas as bagagens de pessoas físicas, mas as cargas não estão sendo liberadas”, informa o dirigente. Na área vegetal, um ponto importante da atuação dos fiscais é a inspeção e liberação dos pallets de madeira que são utilizados para a acomodação de produtos de diversas áreas, como peças e equipamentos industriais. “Nos procedimentos de importação, estes pallets podem trazer pragas exóticas para o Brasil, por isso, precisam passar pelo crivo dos fiscais agropecuários”, afirma Mazzini.
A exportação de tabaco também está sendo impactada pela paralisação. Em Santa Cruz do Sul, maior polo produtor do Rio Grande do Sul, a emissão de certificados internacionais está suspensa. A categoria deverá realizar nova assembleia geral nacional, nesta sexta-feira, para definir se a mobilização continuará ou será suspensa.
O governo havia oferecido reajuste de 21,3% em quatro anos, proposta que não foi aceita pela categoria. O pleito do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários é de correção de 10,8% em dois anos. Os fiscais federais agropecuários também lutam pela transformação da nomenclatura do cargo para “auditor fiscal federal agropecuário”. Outro item das reivindicações é a pauta funcional, com itens como a meritocracia, a instituição de adicionais por atividades penosas e a realização de concurso público.
A luta contra a terceirização da fiscalização é outra pauta de mobilização da categoria. O tema vem sendo levantado pelos fiscais desde o começo do ano, diante da intenção do Ministério da Agricultura de levar a inspeção de produtos de origem animal para a iniciativa privada.