ECONOMIA | JORNAL DO COMÉRCIO | PÁGINA 14
O frigorífico da Marfrig em Alegrete, único habilitado a exportar para a China, está “em situação muito difícil”. A declaração foi dada pelo presidente da companhia, Martin Secco, que também descartou a retomada de abate de bovinos na unidade, uma das quatro do grupo que estão operando no Estado. Um acordo entre a empresa e trabalhadores, celebrado no Tribunal Regional do Trabalho, em fevereiro, garantiu que a planta ficasse aberta apenas com desossa até fevereiro de 2016. Cerca de 350 empregados ainda atuam no frigorífico. Sobre como ficará a operação após o término do prazo do acordo, o presidente da Marfrig disse que ainda não houve definição.
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“Sem possibilidade de retomar os abates lá, pois não tem oferta de animais”, afirmou o executivo, que esteve na Expointer, em Esteio. O grupo, que é um dos maiores em processamento de proteína animal no mundo, chegou a interromper os abates na unidade de Alegrete, no começo de janeiro deste ano. Foram dadas férias de 30 dias e anunciado que, no começo de fevereiro, os mais de 600 empregados seriam demitidos devido à suspensão da atividade. A decisão já havia sido tomada internamente, pelo comando da companhia em São Paulo, em outubro de 2014. “O cenário de quando tomamos a decisão e hoje, não mudou nada”, afirmou Secco. “Depois de fevereiro (de 2016), vamos ver.”
As plantas de São Gabriel e Bagé são as únicas que abatem bovinos, com volume total de 1,3 mil cabeças. O Pampeano, de Hulha Negra, processa carne para produzir o corned-beef. Segundo Secco, a oferta restrita de animais impede a ativação da linha de abate em Alegrete e mesmo de duas unidades, de Mato Leitão e Capão do Leão, fechadas desde 2009. O executivo descartou ainda se desfazer dos ativos. “Não vendemos porque não tem comprador”, justificou o presidente.
Mesmo sendo Alegrete a única planta habilitada a exportar para a China (fluxo reativado em acordo em 2014), que passou a concentrar a atenção da exportação de carne bovina brasileira, Secco alega que não há animais para manter a operação em Bagé e na unidade que só faz a desossa. A Marfrig aguarda apenas a autorização do ministério chinês para validar a venda externa a partir de Bagé. “O pedido já tramita há 60 dias. Os chineses já visitaram a unidade. Esperamos ter agora em setembro, mas não depende de nós”, explicou Secco, indicando que a palavra final é do país asiático. A turbulência a economia do país e período de férias estariam adiando a liberação.
O plano é dedicar toda a produção da planta bajeense à China. O volume significará 20% a 30% da quantidade total que o grupo exporta de carne bovina hoje ao mundo. “A China vai substituir mercados com preço mais baixo, pois não há volume para atender mais demanda”, contrastou o presidente. Os embarques ao Exterior representam 50% das vendas da companhia. Se o abate se elevar a 3 milhões no Rio Grande do Sul, abre-se outra perspectiva, provocou o presidente da companhia. Outro problema no Estado é a saída de animais para terminação em outras regiões. Secco tem dito que o fluxo exigiria medidas do governo estadual, como eventual taxação para desmotivar a venda.