CADERNO CORREIO RURAL | CORREIO DO POVO | PÁGINA 3
Após dominar o território gaúcho durante séculos, hoje o gado Franqueiro não conta com mais de 350 animais no Estado, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Franqueiros (ABCBF). Sob risco de extinção até há pouco tempo, o animal agora será utilizado na reprodução com bovinos do Centro-Oeste do país, com o objetivo de aumentar a presença nacional da raça. Segundo o presidente da ABCBF, Sebastião Fonseca de Oliveira, a iniciativa está sendo negociada com produtores de Goiás, onde o animal é chamado de Pé Duro ou Pantaneiro, após contato pela Internet. “Eles vão levar algumas matrizes e reprodutores para cruzar com os que eles têm lá, de muitas gerações, para dar um ‘choque’”, afirma o criador. O cruzamento deve ser concretizado até o fim do ano, já que o gado tem de estar preparado para enfrentar uma viagem de mais de 2 mil quilômetros.
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No Rio Grande do Sul, porém, a ideia é manter o número atual de animais. Segundo Oliveira, não existem, hoje, incentivos à ampliação do rebanho da raça, que perdeu espaço com a entrada das raças britânicas e dos animais sintéticos — que hoje predominam no Estado. O animal pode ser visto principalmente na região dos Campos de Cima da Serra (Vacaria, São José dos Ausentes, Bom Jesus e São Francisco de Paula), mas também em Viamão e Canguçu.
Rústico, o bovino chama a atenção principalmente pelos chifres, que podem chegar a 230 centímetros de uma extremidade a outra. “Esse animal nunca sofreu influência humana e continua como se fosse selvagem. A seleção dele é natural, não é como a das raças sintéticas”, observa o presidente da associação. Segundo Oliveira, cada exemplar contém pelo menos dez variedades. Ou seja, se nascerem dez terneiros da mesma cruza, nenhum será igual ao outro.
O aspecto físico confere ao Franqueiro um visual bastante diferente da maior parte das raças bovinas encontradas atualmente em território gaúcho. “É um gado extremamente rústico, de difícil ganho de peso, que tem as mesmas características genéticas do Longhorn americano”, define o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-RS), José Arthur de Abreu Martins. De acordo com ele, o animal — com aptidão tanto para carne quanto para queijo — tem sido historicamente utilizado para servi- ços dentro da propriedade, como o arado. O leite, inclusive, foi utilizado na fabricação do queijo serrano.
Ausente da Expointer há dois anos, o Franqueiro ainda assim foi assunto na última edição da feira, quando a Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia Legislativa promoveu o lançamento de um calendário, com um histórico e imagens da raça. O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Franqueiros (ABCBF), Sebastião Fonseca de Oliveira, diz que, mesmo chamando atenção do público, a inscrição desses animais para a principal feira agropecuária do Estado é inibida por uma série de dificuldades. “É tanta burocracia que nem vale a pena”, afirma.
Originário do Egito, o gado Franqueiro chegou às Américas trazido pelos europeus. Os primeiros exemplares aportaram na costa brasileira em 1534. No Brasil, a raça, acostumada ao clima temperado da Europa, teve de adaptar-se ao clima tropical. Na região Sul, atualmente, o animal também é encontrado em Santa Catarina, onde é chamado de Crioulo Lageano.