EXPOINTER | CORREIO DO POVO | PÁGINA 16
A sanidade na pecuária pautou a primeira edição do ciclo Debates do Correio do Povo Rural, realizado na Casa do Correio do Povo/ Grupo Record RS no Parque de Exposições Assis Brasil. O tema da aftosa, que divide opiniões sobre a retirada da vacinação, porém, não é o único a despertar a atenção do setor. Hoje, outro inimigo tira o sono dos pecuaristas: o carrapato.
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O 1º vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, afirma que hoje o carrapato é o maior problema, que se manifesta durante dois períodos: em novembro e dezembro, quando ainda não traz grandes prejuízos, e de março a maio, quando pode levar à mortandade. “A indústria não tem investido muito nesse tema, atrás de moléculas novas, até porque o desenvolvimento de uma molécula leva muitos anos e custa uma fortuna”, observa. Conforme Pereira, um dos motivos para a incidência é a grande presença, no Rio Grande do Sul, das raças britânicas, mais sensí- veis à praga do que os zebuínos. Outro motivo, segundo ele, é a falta de tecnologia por parte de muitos produtores.
Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Fernando Lopa, a ocorrência da praga chegou a causar, até o final de maio, uma perda de 25 kg por animal na região de Alegrete. “Fora a mortandade”, destacou o dirigente. Um dos fatores que impediram consequências mais graves, de acordo com ele, foi o fato de o inverno não ter sido tão rigoroso, o que deu condições de recuperação aos animais.
Diferentemente de doenças como a brucelose e a tuberculose, o combate ao carrapato não conta com programas governamentais, como lembrou o vicepresidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), José Arthur de Abreu Martins. “Nós declaramos perdida a guerra. A molécula mais moderna deve ter cinco ou seis anos, e o carrapato já é resistente”, observou. Uma sugestão apresentada pelo dirigente é o caso da Argentina. No país vizinho, veteriná- rios particulares foram nomeados como corresponsáveis sanitários, passando a atuar em parceria com o serviço veterinário oficial. “Eles entraram nas propriedades rurais primeiro trabalhando com brucelose e tuberculose, e a partir daí passam para outras questões”, explicou.
A possibilidade de retirada da vacinação contra a febre aftosa é vista com reservas pelos pecuaristas. Para Gedeão Pereira, o atual status sanitário do Rio Grande do Sul — de livre de aftosa com vacinação — não impede o acesso a mercados importantes. “O que atesta que temos sanidade razoavelmente boa são os diversos mercados que já estamos atingindo, agora chegando ao dos Estados Unidos”, destacou.
Fernando Lopa, por sua vez, chamou a atenção para o fato de o Estado estar enfrentando uma greve dos fiscais agropecuários. “Se vamos retirar a vacina, temos de lembrar que poderá haver outras greves e termos um sistema debilitado. Não temos um plano B”, apontou. Para José Arthur Martins, falta integração entre os diversos órgãos para que a defesa sanitária possa avançar ainda mais, como a Polícia Rodoviária Federal e a Secretaria da Fazenda.