CADERNO RURAL | CORREIO DO POVO | PÁGINA 04
Depois de crescer em grandes proporções em um período de 43 anos, de 1.596 cabeças em 1970 para um pico de 69.713 em 2013, segundo o Censo Agropecuário, o rebanho bubalino do Rio Grande do Sul vem passando por fase de estagnação, com pequenas oscilações, nos últimos cinco anos. Fatores contrários
puxam os números para cima e para baixo e podem levar a uma nova tendência quando um deles conseguir se impor. A disponibilidade de terras tende a aumentar a presença da espécie nos campos gaúchos. Já o descarte de fêmeas e a falta de frigoríficos equipados para o abate podem conter a expansão.
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Com o avanço da soja e do eucalipto na Metade Sul, onde está concentrado 80% do rebanho bubalino
no Estado, a expectativa dos criadores é que haja ampliação do número de cabeças. “Os campos melhores estão sendo transformados em lavoura. A soja e o eucalipto jogam a pecuária para os campos piores, que é onde os búfalos se dão bem”, avalia o presidente da Cooperativa Sulriograndense de Bubalinocultores (Cooperbufalo), Julio Ketzer. “O búfalo transforma campo de segunda em carne de
primeira”, acrescenta. Outra vantagem é que estes animais contribuem com a manutenção dos campos naturais.
Mas apesar das boas perspectivas, dados da Secretaria da Agricultura e Pecuária (Seapa) mostram que o rebanho gaúcho diminuiu 8% de 2012, quando foram declaradas 66.008 cabeças, para 2014, quando os criadores declararam 60.529 animais. “Estas pequenas oscilações devem-se ao descarte de fêmeas”, explica a veterinária Carla Lehugeur, coordenadora da Câmara Setorial de Carne Bovina da Seapa,
que também cita como motivo a disponibilidade de pastagens, conforme o ano, e as condições
climáticas. O número de propriedades com criação de búfalo, porém, aumentou de 1.708 para 1.718 no mesmo período.
Os criadores avaliam que a diminuição do rebanho se deve à redução do número de frigoríficos
aptos para o abate. “O animal é mais inquieto e tem a cabeça mais dura que os bovinos, por isso o abate é diferente”, explica Ketzer. O presidente da cooperativa destaca que para o abate humanitário, que prevê o bem-estar animal, é necessário um box de contenção específico para segurar o búfalo. “O equipamento
é caro, nem todo frigorífico tem interesse em fazer o investimento”, avalia. No entanto, a Seapa informou que de 2012 até agora o número de estabelecimentos habilitados se manteve em 19 plantas.
O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Ronei Lauxen, reconhece que não há um mercado cativo para a carne de búfalo, mas assegura que os frigoríficos absorvem a produção dentro das suas possibilidades. “Não há uma procura específica. Até há demanda, mas não em grandes volumes”, comenta. Embora ainda não tenha decolado no Rio Grande do Sul frente à proporção do rebanho bovino, que tem 14 milhões de cabeças, a criação de búfalos tem algumas vantagens. Uma delas é o ciclo mais curto, que viabiliza maior produção de carne em menos tempo.
Enquanto 57% dos bovinos são abatidos com mais de 36 meses e 22% com 25 a 36 meses, segundo dados da Seapa, 38% dos bubalinos vão para o abate com idade entre 13 e 24 meses. “Quanto menor a
idade do abate, maior será a taxa de desfrute”, destaca Carla, coordenadora da Câmara. No Rio Grande do Sul, os bovinos têm taxa de desfrute de 15% e os bubalinos, de 22% — é pela taxa de desfrute que se mede a capacidade do rebanho de gerar excedente, ou seja, a produção durante certo período de tempo em relação ao rebanho inicial. O parâmetro é influenciado por fatores como raça, taxa de natalidade sistema de criação, idade ao abate e abate de fêmeas, por exemplo.
Em 2014, os criadores associados à Cooperbufalo encaminharam para o abate 5.084 cabeças, totalizando 969,3 mil quilos de carcaça com uma média de 190,5 quilos por carcaça. No Rio Grande do Sul, em 2014 foram abatidos 13.772 búfalos – queda de 6,5% se comparado ao número de abates em 2012, que fechou
em 14.727.
A veterinária Cristiane Soares Simon Marques, doutoranda em Zootecnica e integrante do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), acredita que um dos motivos para a redução do rebanho é o fato de que não há um incentivo ao consumo da carne de búfalo no Estado. “Os frigoríficos compram pouco e pagam 20% a menos em relação à carne de gado.
A margem de lucro do produtor fica menor”, avalia.