CIDADES | A HORA DO VALE | PÁGINA 12
Os fiscais federais agropecuários permanecem em greve por tempo indeterminado. Todas as fronteiras terrestres, portos, aeroportos e a inspeção em frigoríficos com registro federal são prejudicados com a paralisação iniciada no dia 17. Entre as reivindicações da categoria, está o reajuste salarial. Conforme a delegada sindical do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários no Rio Grande do Sul, Consuelo Paixão Côrtes, o último aumento ocorreu em 2010 e a inflação no período supera os 38%.
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O governo havia oferecido reajuste de 21,3% em quatro anos, proposta que não foi aceita. “Pedimos 10,8% em dois anos.” A categoria luta pela transformação da nomenclatura do cargo para “auditor fiscal”, a instituição de adicionais por atividades penosas e a realização de concurso público. “O último ocorreu 2012, quando foram nomeados 232 profissionais. O déficit em todo país chega a três mil fiscais, 150 aqui no estado”, informa.
A luta contra a terceirização da fiscalização agropecuária é outra pauta. O tema é discutido desde o começo do ano, diante da intenção do Mapa de levar a inspeção de produtos de origem animal para a iniciativa privada.
No entanto, a chamada pauta funcional é o que mais preocupa a categoria. “O pacote de ajuste do governo prevê o fim do abono permanência. Isso pode tirar 56% dos fiscais que já têm condições de se aposentar no país”, esclarece.
Com a paralisação total em áreas como o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), onde são testadas e aprovadas as vacinas contra a febre aftosa comercializadas em todo o país, o processo de vacinação pode ser prejudicado.
Em todo país, atuam em torno de três mil profissionais. No Vale do Taquari, são nove e, caso o abono de permanência seja cortado, pode reduzir para quatro. Sem novos contratações por concurso, esse número é considerado insuficiente e pode afetar a inspeção do abate de 1 milhão de aves e oito mil de suínos ao dia.
Sem espaço para estocar
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal, a greve faz com que 25 mil toneladas de carnes de aves e suínos estejam paradas em portos e armazéns das empresas exportadoras. Esse montante equivale a cerca de 6,5% do volume total de carne in natura suína e de aves exportado pelo país em agosto. “Fábricas reduzem e paralisam abate por falta de espaço para estocar produtos e contratos de exportação estão ameaçados. Deixamos de receber R$ 100 milhões por dia”, disse em nota o presidente Francisco Turra. Segundo Consuelo, até o fim da semana, algumas indústrias do estado devem paralisar os abates por falta de caminhões e câmaras frias para estocar a matéria-prima.
No entanto, afirma que todos os serviços essenciais são mantidos, inclusive inspeção ante e pós-morte. “Fiscalizamos as carcaças, mas não emitimos os certificados. Dessa forma, os produtos não podem sair das plantas.”
A exportação de tabaco, milho, soja e algodão também é impactada. “Em qualquer país, o serviço de defesa sanitário é o mais respeitado. Aqui é o contrário, mesmo sendo o agronegócio o setor responsável por sustentar a balança comercial. Queremos mais valorização.”
Prejuízos no setor de carnes
O Rio Grande do Sul exporta por ano mais de 700 mil toneladas de carne de frango, 150 mil de carne suína e quase cem mil de carne bovina. “O setor embarca produtos diariamente para dezenas de países. Um único dia de paralisação já provoca grandes impactos”, relata o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos, Rogério Kerber.
O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura, Nestor Freiberger, afirma que as empresas não têm condições de suportar mais um entrave. “Os reflexos são muito rápidos, pois implicam em redução de abates, perda de logística contratada e não atendimento de contratos internacionais”, lamenta Freiberger.
Segundo ele, as indústrias estão tomando pé da situação, mas o anúncio de greve por tempo indeterminado traz muita insegurança para o setor. “É urgente encontrar uma solução para este problema.”
O setor de proteína animal enfrenta uma série de obstáculos que prejudicam a competitividade. O salário mínimo regional maior do que em outros estados e custos de diversos itens da planilha – como energia elétrica – mais altos, fazem os investimentos no segmento gaúcho serem cada vez menores.
Além disso, a perspectiva de maior carga tributária, tanto federal quanto estadual, deixa o segmento de produtos de origem animal em grande desvantagem. O diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes no Rio Grande do Sul, Zilmar Moussale, conclui que “a greve torna a situação insustentável para os empresários do setor.”