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Estudo constatou que, mesmo com incidência geral baixa, existem regiões do Estado com maior concentração de casos de tuberculose bovina,o que requer um sistema de vigilância para detecção e saneamento dos focos existentes
Zoonose de grande impacto econômico e sanitário, a tuberculose bovina é uma das maiores preocupações dos criadores de gado, em especial daqueles voltados à produção de leite. Um estudo recém-publicado por pesquisadores do Rio Grande do Sul, São Paulo e Brasília mapeou pela primeira vez a incidência da enfermidade nas propriedades gaúchas. Embora os números não sejam altos, o controle tem exigido cada vez mais a atenção dos pecuaristas, uma vez que se trata de uma doença incurável e sem vacinação disponível.
Os dados fazem parte de artigo intitulado Epidemiological status of bovine tuberculosis in the stat of Rio Grande do Sul, Brazil (Situação epidemiológica da tuberculose bovina no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil), publicado na última edição da revista Semina: Ciências Agrárias, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O texto é assinado por 11 pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Brasília (UnB) e da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul. O inquérito, realizado entre os meses de janeiro e setembro de 2013, constatou que a prevalência de focos (ou seja, de rebanhos infectados) no Estado é de 2,8%, enquanto a prevalência de animais é de 0,7%. A maior parte dos casos está concentrada na região Norte, caracterizada pelo predomínio de propriedades de leite ou mistas.
Esta é a primeira vez que é realizado um estudo de prevalência com abrangência em todo o Estado. “Os estudos anteriores eram localizados em regiões pequenas, então não temos como fazer uma comparação (com relação a aumento ou redução da prevalência)”, afirma Ana Groff, fiscal estadual agropecuária da Seção de Vigilância Zoossanitária da Secretaria de Agricultura e uma das autoras do estudo. Apesar disso, segundo ela, o inquérito permite concluir que a prevalência de tuberculose bovina é baixa no Estado, embora existam regiões com maior concentração de focos, o que requer um sistema de vigilância para detecção e saneamento dos focos existentes. O estudo irá fornecer subsídios para aperfeiçoar a gestão do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) no RS.
Causada pela bactéria Mycobacterium bovis, a tuberculose bovina é uma zoonose de evolução crônica, caracterizada pelo desenvolvimento de lesões nodulares que podem localizar-se em qualquer órgão ou tecido do animal. Por tratar-se de uma doença de evolução muito lenta, os sinais clínicos são pouco frequentes. Entre os sintomas dos estágios mais avançados da doença estão caquexia, dispnéia, tosse, mastite e infertilidade. “A importância econômica atribuída à doença bovina está baseada nas perdas diretas resultantes da queda no ganho de peso e diminuição da produção de leite, da eliminação de animais e da condenação de carcaças ao abate”, observa Ana Groff.
Além de seguir o que estabelece o PNCEBT, o RS conta desde 2014 com uma legislação complementar, a Instrução Normativa 002/2014, da Seapi, que estabelece o saneamento de propriedades com focos de tuberculose ou brucelose e, quando é o caso, restrições de movimentação de animais. No início de novembro foi publicada no Diário Oficial da União uma atualização do programa nacional, estabelecendo a classificação das unidades da federação de acordo com o grau de risco para brucelose e tuberculose. Os critérios para a classificação serão detalhados em norma complementar, a ser publicada.
A execução do inquérito, que também analisou a situação da brucelose no Estado (leia mais na página 2) contou com o apoio do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa). Para o presidente do fundo, Rogério Kerber, com base nos números é possível fazer uma projeção da necessidade de recursos para intensificar o programa de controle das duas doenças. “Na medida em que nós sabemos o tamanho do problema, dá para intensificar a abreviar o tempo para que a produção do RS alcance uma condição de controle e, quem sabe no futuro, de erradicação”, avalia. O combate às duas zoonoses é apontado como um fator fundamental para a abertura de novos mercados. Segundo Kerber, a Rússia, por exemplo, apresenta potencial para importar cerca de 30 mil litros de leite em pó. Porém, há a exigência de que a produção seja oriunda de propriedades livres de brucelose e tuberculose. “Então, o Rio Grande do Sul precisa dar velocidade neste trabalho e esse inquérito é muito importante para a tomada de decisão”, complementa o dirigente.
RAIO-X
A prevalência de tuberculose bovina no Rio Grande do Sul é de 2,8% dos rebanhos infectados e 0,7% dos animais, conforme estudo.
Foram testados 9.895 animais, de 1.067 propriedades gaúchas.
O inquérito identificou tendência de concentração de focos no Norte do Estado.
Entre os fatores de risco estão a exploração leiteira e rebanhos com 16 ou mais vacas com pelo menos 24 meses de idade.
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