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CP: RIGOR das normas divide opiniões

RURAL | CORREIO DO POVO | PÁGINA 2C

Enquanto a Influenza aviária causa temor em países de Primeiro Mundo, como os Estados Unidos, que ainda estão sofrendo os efeitos de recente surto da doença, a flexibilização das medidas de biosseguridade previstas na legislação brasileira divide opiniões. De um lado estão os produtores e técnicos, que alegam que os altos custos para a adequação das granjas inviabilizam a atividade para o agricultor familiar. De outro, especialistas e entidades ligadas à avicultura demonstram preocupação com a sanidade avícola.

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Para o extensionista rural da Emater Marcelo Müller, a legislação atual contempla realidades fundiárias extensivas, como as existentes do Paraná para cima. “Se nada for feito, o prejuízo que vai se somando com o tempo será de difícil reversão. Vai dizimar a avicultura no contexto da agricultura familiar”, alerta o técnico referindo-se às restrições. Segundo Müller, os investimentos necessários para adequação das granjas comerciais oneram os agricultores familiares que criam de 70 mil a 100 mil aves de corte.

Levantamento de custos feito pela Emater indica que o preço médio do piso adequado para adaptar os estabelecimentos, conforme as exigências, varia de R$ 60,00 a R$ 65,00 o metro quadrado. Para aplicar piso em toda a extensão de um aviário padrão, por exemplo, que tem 140 metros de comprimento por 14 metros de largura, totalizando 1.960 metros quadrados, o custo estimado é de R$ 117 mil. Já a instalação de uma casa de apoio, com banheiro e escritório, que também faz parte das exigências, demanda investimento mínimo de R$ 30 mil.

Em Westfália, pelo menos dez projetos estão parados. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia e Westfália, Liane Brackmann, destaca que, por ser pequeno, o município acaba sendo prejudicado geograficamente pela regra do distanciamento mínimo de 1 quilômetro. Com apenas 62,5 quilômetros quadrados, Westfália tem oito estabelecimentos de reprodução ou abate que restringem a instalação de novas granjas de corte.

“Esses distanciamentos adotados hoje são essenciais para a prevenção de doenças virais e de origem bacteriana”, afirma o veterinário Thales Furian, especialista em Sanidade Avícola. Pesquisador do Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária (CDPA) d a Ufrgs e membro do Coesa, Furian ressalta que surtos ocorrem em todo o mundo. “É sempre difícil mensurar o impacto econômico de um problema sanitário”. O coordenador do CDPA, Carlos Tadeu Pippi Salle, vai além. “Temos que considerar o risco e ter um plano pronto”, alerta o especialista.

A Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) é contra a flexibilização das normas em vigor. “Tudo que vai aumentar o risco sanitário, neste momento que está havendo surto de Influenza nos Estados Unidos, não somos favoráveis”, disse o diretor executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos. “Temos que medir sempre o futuro, não podemos pensar só no presente”, acrescentou. Ele considera arriscado e avalia que medidas menos rigorosas podem colocar em risco o Estado e até mesmo o país.

Apreensiva com a expansão dos focos de Influenza aviária, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) solicitou ao governo medidas mais restritivas. Por meio de ofício, a entidade pediu ao Ministério da Agricultura (Mapa) a elaboração de uma normativa complementar às Instruções Normativas (INs) em vigor. A ABPA sugere ainda que não seja emitida Guia de Trânsito Animal (GTA) para propriedades que não estiverem adaptadas às normas de biosseguridade. “A ABPA é contra qualquer tipo de flexibilização. Temos que apertar mais o rigor, e não relaxar”, enfatiza o diretor técnico da entidade, Ariel Mendes. Segundo ele, as empresas estão ajudando os integrados a se adequarem. Mendes destaca ainda que há linhas de crédito, como o Inovagro, especí- ficas para a adequação de aviários.

Vulnerabilidade  

O Rio Grande do Sul abate uma média de 55 milhões a 60 milhões de frango ao mês. Com as contribuições do setor até junho, o saldo da avicultura no Fundesa é de R$ 4,817 milhões. No caso de um evento sanitário, considerando a cotação do frango vivo em R$ 2,45 o quilo, o valor seria suficiente para indenizar, 655 mil frangos. “O que não é nada significativo”, reconhece o presidente do Fundesa, Rogé- rio Kerber. “A vulnerabilidade da produção é real. A sanidade é extremamente importante para a avicultura devido às barreiras sanitárias impostas”, acrescenta.