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Doença é transmitida para humanos por um inseto contaminado
Porto Alegre registrou na segunda-feira o primeiro óbito em decorrência de leishmaniose visceral. A vítima foi uma menina de dois anos moradora do Morro Santana. Para esclarecer as dúvidas sobre a doença, ZH ouviu especialistas.
O que é
É causada por um protozoário da espécie Leishmania chagasi, que é transmitido ao homem pela picada de fêmeas do Lutzomyia longipalpis, conhecido como mosquito-palha. Nas regiões urbanas, os cães são as principais fontes de infecção para o vetor. Inicialmente tratada como uma doença rural, a leishmaniose visceral tem se expandido para as áreas urbanas, conforme informações do Ministério da Saúde.
O que acontece
O parasita entra nas células brancas de defesa do organismo e começa a se reproduzir, causando um estado de inflamação e infecção crônica.
Sintomas e diagnóstico
Febre aguda e prolongada, mal-estar, cansaço, perda de peso, falta de apetite e palidez (provocada por um estado de anemia) são alguns dos sinais da leishmaniose visceral. Nos casos mais avançados, pode provocar aumento abdominal, do baço e do fígado, órgãos que concentram um maior volume de células brancas.
O diagnóstico é feito por meio da análise de informações do paciente (viagens recentes, se é morador de área rural etc), de testes sorológicos ou de análise da medula óssea, outro local onde o protozoário se multiplica.
Como prevenir
A prevenção passa por medidas de saneamento básico. Como os vetores se multiplicam mais em áreas rurais e com muita matéria orgânica, é preciso manter a limpeza dos pátios. Moradores de locais por onde o inseto circula devem usar mosqueteiros e repelente. É imprescindível o cuidado com os cães de estimação, pois eles são o reservatório do parasita. Quando infectados, os cachorros ficam com o protozoário no corpo. Se picados pelo vetor, pode ocorrer a transmissão, tanto para o homem quanto para outros cães. A doença só é transmitida pelo mosquito. Não há contágio pelo contato com animais ou pessoas infectadas.
Como tratar
O tratamento é feito com drogas antiparasitárias. Casos leves têm indicação de medicamentos via oral, os antimoniais pentavalentes. Pacientes em estágio mais evoluído devem ser internados e utilizar anfotericina B. O tratamento leva, em média, 30 dias, dependendo da resposta do paciente às drogas.
Consequências
Como deixa o paciente imunodeprimido, se não tratada, a doença pode acarretar na morte. Em 100% dos casos não tratados, há registro de óbito.
Fontes: Marcelo Simão Ferreira, consultor e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista e coordenador do Centro de Imunizações do Hospital Moinhos de Vento e Ministério da Saúde
Nos animais
No meio urbano, os reservatórios do protozoário são os cães. Eles podem apresentar a doença de forma assintomática ou sintomática. Os tutores devem ficar de olho aos seguintes sintomas: emagrecimento (mesmo quando os animais se alimentam bem), problemas dermatológicos que não cedem aos tratamentos, debilidade e crescimento exagerado das unhas.
Quando diagnosticado com leishmaniose por um médico veterinário, o animal ainda passa por um exame de confirmação da doença feito pelo Laboratório Central do Estado (Lacen). Embora gere muita controvérsia, se o teste for positivo, a orientação do Ministério da Saúde é proceder com a eutanásia do animal.
— Não temos no Brasil nenhuma droga para tratamento que seja licenciada pelo Ministério da Agricultura — explica a presidente da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, Camila Jacques.
De acordo com a especialista, cães que moram em áreas rurais estão mais expostos à doença, pois o vetor ainda não se disseminou na área urbana de Porto Alegre. Nestes casos, a prevenção passa pelo uso de coleiras inseticidas e cuidados como recolher os animais ao entardecer e manter os pátios limpos.
Moradores da região central devem ficar atentos, mas não precisam entrar em pânico. As medidas de prevenção devem ser tomadas só quando os animais forem para áreas mais isoladas do município.
— Nas festas de fim de ano, muitas pessoas colocam os cães em hotéis, e muitos deles ficam em áreas rurais. É bom saber onde vai se deixar os animais — orienta Camila.
O caso
Em tratamento desde abril, a menina de dois anos, vítima de leishmaniose em Porto Alegre, recebeu o diagnóstico uma semana antes de morrer. Desde que a suspeita foi notificada, toda a rede de saúde da Capital foi alertada.
A Coordenadoria-geral de Vigilância em Saúde e Coordenação da Atenção Básica monitora a região onde a criança morava. Houve análise do sangue de 103 cães, dos quais 23 tiveram resultado positivo. Eles foram chipados e receberam coleira com inseticida. Um dos animais morreu.
— Não temos o vetor urbano, só silvestre. Orientamos a comunidade para que faça o manejo ambiental para que não tenha acúmulo de resíduos, pois o vetor cresce em matéria orgânica — garante o coordenador-geral da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Anderson Araújo de Lima.
Além destas medidas, armadilhas foram instaladas para capturar o inseto.
O vetor
O inseto mede cerca de 3mm e tem como principal característica o fato de pousar e manter as asas eretas. Ele se reproduz em materiais orgânicos e úmidos. Normalmente se alimenta picando animais, sendo que os casos de picada em humanos são considerados acidentais. Saem para se alimentar ao entardecer e retornam aos seus esconderijos quando o dia começa a clarear.
Fonte: Getúlio Dornelles Souza, biólogo da Coordenadoria-geral de Vigilância em Saúde de Porto Alegre