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17/11/2015 – Folha do Sul: Inspetoria Veterinária e Zootécnica remete amostra para Lanagro de Porto Alegre

FOLHA DO SUL | BAGÉ | ONLINE E IMPRESSO

A coleta sorológica do equino suspeito de ter contraído a doença de mormo foi remetida, ontem, para o laboratório Lanagro, de Porto Alegre. Conforme o chefe da Inspetoria Veterinária e Zootécnica de Bagé, José Vital Cerveira, esse soro passará novamente pelo teste de fixação de complemento; caso dê positivo, haverá verificação com maleína. Cerveira reitera que o trabalho de investigação do foco está em andamento com uma grande atuação em parceria com o Círculo Militar e que o processo segue em cumprimento pelas normas do Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e do próprio Ministério da Agricultura. “Não temos poder de mudar essas normativas e de regulamentar um procedimento que seja diferente do que é atualmente preconizado por esses órgãos. Acredito que as entidades, como as associações de raça, é que devem buscar a solicitação se é maleína ou western blotting (WB) para o exame após o teste fixação de complemento. O que for decidido pelas instâncias superiores, nós iremos cumprir. No entanto, hoje o que o Ministério e a Secretaria da Agricultura exigem são esses passos, os quais estamos cumprindo pela Instrução Normativa”, destaca o chefe da IVZ de Bagé.

Maleína ou western blotting?

A polêmica da utilização ou não do exame de western blotting como alternativa à maleína para identificação do mormo ganha espaço em casos como o da comarca de Cruz Alta, onde o Judiciário determinou que 10 equinos não fossem sacrificados antes da realização do teste de western blotting.

Foram dois casos em que criadores desses animais contestaram os resultados dos exames de maleína como contraprova e, por não considerarem o método como confiável, exigiram exames com western blotting. A decisão foi do magistrado Sérgio Manduca Rosa Lopes. As liminares foram concedidas na última quinta-feira.

Perguntado sobre a atual discussão, o presidente da Câmara Setorial da Equideocultura, Flávio Obino Filho, aponta que, pela legislação vigente, o teste de confirmação é o da maleína que, por ser de natureza subjetiva (avaliação do veterinário oficial), causa desconforto. “Há cerca de um ano o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com o apoio da Câmara de Equideocultura, já vinha adotando o WB como teste de confirmação através do Lanagro Pernambuco. Inquestionavelmente, a substituição da maleína pelo WB, inclusive na normativa de combate ao mormo, é o caminho mais indicado”, declara.

“Judicialização”

Questionado sobre o despacho de 4 de setembro da procuradora da República, Marina Sélos Ferreira, em que discutia a possibilidade de uma “falsa epidemia de mormo no país”, pois os laboratórios Lanagro não possuíam certificação técnica para a realização dos exames, Obino Filho ressalta que, hoje, o Lanagro de Pernambuco  tem toda a qualificação para a realização dos exames, mas, efetivamente, não tinha um certificado.” Hoje o laboratório já tem a referida certificação. A Câmara entendia que deveria buscar a certificação sem interromper suas atividades, pois era o único laboratório do país qualificado para o WB. Por pressão inclusive de operadores do Direito desinformados, o laboratório interrompeu por três meses os exames de WB, período que foi retomada a maleína com as incertezas que causa. Não temos uma epidemia de mormo na Região Sul, mas, com certeza, até pela fiscalização relaxada nos últimos anos no Estado, temos casos da doença. Estamos fazendo todos os esforços para melhor conhecer a zoonose. Reações cruzadas até são possíveis, por esta razão é que entendemos essencial a necropsia dos animais doentes abatidos, para isolamento da bactéria. A Secretaria do Estado do Rio Grande do Sul deve firmar o compromisso de necropsiar todos os cavalos abatidos e encaminhar o material para isolamento da bactéria”, salienta Obino Filho.

O presidente da Câmara Setorial de Equideocultura comenta que entende a reação do proprietário que quer lutar contra o sacrifício de seu animal, porém ele acredita que, na grande maioria das situações, essa “judicialização” acaba por inviabilizar a liberação do trânsito das propriedades com foco e o vírus acaba se espalhando nesses locais, tornando-se economicamente inviáveis para a criação de cavalos.

“Judicializar neste tema é gol contra do proprietário e um perigo para o setor. Temos é que apertar na fiscalização”, entende Obino Filho. Ele defende que os equinos somente possam sair das propriedades rurais, sejam montados pelo proprietário ou em veículos de transporte, chipados, com exames de mormo e anemia válidos e Guia de Trânsito Animal. “Não reunindo estas condições, o cavalo tem que ficar confinado na propriedade. A conduta de utilização de exames de outros cavalos como se fossem do cavalo transportado deve ser denunciada e seus responsáveis, direta e indiretamente, criminalmente responsabilizados”, afirma.

Aspectos a serem analisados

No âmbito da ciência, o professor de Medicina Veterinária, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Carlos Eduardo Nogueira, enfatiza o entendimento da categoria de que se tenha todo o cuidado com a doença, pois ela é uma zoonose, além disso é de importância fundamental de que se aceitem as medidas de segurança que estão sendo tomadas pela Seapi, além do apoio dos criadores para estas medidas de cuidado com circulação dos equinos. Contudo, Nogueira também pondera a preocupação dos profissionais da área com os resultados que podem ser obtidos com a maleína. Mais do que a reação na pálpebra do animal, que confirma o resultado, após a injeção intradérmica, deveriam ser analisados outros aspectos.

“Conforme a Organização Mundial de Saúde Animal para o exame do exemplar considerado positivo deveriam ser levados em conta outros aspectos como a secreção nasal, conjuntivite, pico febril, entre outros sintomas clínicos. O que ocorre é que estamos usando uma técnica importante, mas com possibilidade de interpretação diferente. Já o western blotting é tão específico quanto a maleína; porém, sua diferença está no quantitativo de respostas. Ele tem sido aplicado no mundo e o Brasil, atualmente, aceita por legislação seu uso. Acredito que os criadores estão desinformados visto que ministério passou a aceitar o uso de western blotting. Antes, não estava sendo feito porque o laboratório que utilizava tal técnica não tinha o ISO e agora ele tem, desde o final de outubro (Lanagro, de Pernambuco). Ou seja, o criador tem o direito de não aceitar a utilização da maleína e preferir o uso do western blooting” declara.  O professor da UFPel ainda frisa que a categoria não está descaracterizando o serviço oficial de controle, mas justificando um debate sobre o mormo no Estado.

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