ZERO HORA | CAMPO ABERTO | PÁGINA 25
No trimestre em que o milho alcançou preço histórico no mercado interno, o número de abates de suínos também bateu recorde no Brasil. De abril a junho, a quantidade de animais industrializados no país chegou a 10,46 milhões de cabeças, o maior volume desde 1997 – início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foram 770,9 mil cabeças a mais do que no mesmo período do ano passado, aumento de 8%. No Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor nacional, o acréscimo chegou a 137,4 mil – atrás apenas de Santa Catarina, onde o incremento foi de 189,2 mil animais.
Os recordes concomitantes de suínos abatidos e do preço do milho têm uma explicação simples, segundo o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber.
– Os produtores anteciparam os abates pelo alto custo de produção. Mesmo com peso inferior, mandaram os animais para a indústria pela falta de condições de mantê-los nas propriedades – explica Kerber.
A redução nos plantéis, completa o dirigente, resultou da pressão exercida pelo preço do cereal – principal componente da ração. Para as indústrias, o impacto foi sentido no excedente de produto, justamente em período de retração do consumo por conta da crise.
– Os estoques cresceram muito, levando as indústrias a buscarem unidades de refrigeração fora dos parques industriais – conta Kerber.
Presidente da Associação de Criadores de Suínos do Estado (Acsurs), Valdecir Folador confirma que o alto custo do milho levou produtores a encaminharem animais para abate mesmo abaixo do peso habitual:
– Muitas matrizes foram descartadas por criadores que se desanimaram com a atividade.
O efeito dessa redução no rebanho será sentida apenas no próximo ano, já que o ciclo de produção de leitões é de oito a dez meses.
– A suinocultura vinha de um período forte de crescimento, com aumento significativo da produtividade – completa Folador.
Agora, para o rebanho voltar a ser reposto, será necessário um cenário conjuntural mais favorável, com o aumento do consumo e recuo do preço do milho.