A HORA | CADERNO CONEXÃO | PÁGINA 2
Os casos de abigeato que se multiplicam a cada dia assustam quem vive no interior do RS. As paisagens bucólicas de outrora, onde se reunia gente simples em torno de uma boa conversa, hoje concentram depoimentos de medo e traumas incuráveis. Para quem vive no campo, tendo a pecuária como ganha-pão, encontrar um animal morto – carneado em pleno pasto – aterroriza, causa prejuízo e uma sensação de impotência e incredulidade. Os bandidos chegam a levar lotes inteiros ou interceptar caminhões nas estradas. Como chegamos a esse ponto?
As grandes cidades recebem muita atenção, pois casos de violência contra as pessoas são mais graves e causam impacto na vida de todos, com a sensação de falta de liberdade para a realização de atividades simples, como um passeio em uma praça.
Entretanto, os danos patrimoniais não são o único problema, no caso do abigeato. Fica o trauma pessoal das famílias vítimas dos bandidos e um rastro de problemas de saúde pública.
A carne do abate de animais roubados não tem garantia de sanidade. Como não passa por estabelecimentos inspecionados, o produto pode conter doenças, lesões e contaminações. O animal é morto no campo, transportado em veículos clandestinos, no meio da sujeira, e em temperatura inadequada.
A principal diferença que o consumidor pode perceber na hora de comprar um produto que não vem com “etiqueta” é o preço. Desconfie ao encontrar carne muito barata e em estabelecimentos que não demonstrem condições mínimas de higiene.
A população precisa entender a ligação direta que existe entre as saúdes animal e pública. Mais de 70% das enfermidades em humanos surgidas desde a década de 1940 têm origem animal. E isso ocorreu por causa do trânsito intenso de pessoas e produtos. Portanto, observar a procedência e a qualidade do que consome – e não apenas o preço – é medida fundamental para garantir a segurança na alimentação e, infelizmente, é o pouco que está em nossas mãos.
Rodrigo Lorenzoni – Presidente do CRMV-RS