Facebook
Contato: (51) 99322.7144
thais@thaisdavila.com.br

10/01/2016 – CP Correio Rural: Alerta no combate ao carrapato

CORREIO DO POVO | CORREIO RURAL

O maior temor dos pecuaristas gaúchos mede pouco mais de um centímetro, mas é capaz de fazer um estrago grande tanto na produção de carnes quanto na indústria coureiro-calçadista. O carrapato, principal agente transmissor da tristeza parasitária, doença que pode levar à morte, exige atenção redobrada no verão. No Rio Grande do Sul, onde predominam as raças britânicas — consideradas menos resistentes do que os zebuínos —, produtores e veterinários afirmam que a incidência tem aumentado, embora não haja dados oficiais. A dificuldade no combate é acentuada pela oferta restrita de produtos veterinários e pela resistência crescente do parasita, que também pode se proliferar diante de controle inadequado e em situações climáticas específicas.

Favorecida pelo calor e pela umidade, características necessárias para que a biologia do carrapato se preserve, a incidência do parasita provocou alerta nos últimos meses. “Tivemos um aumento desse parasitismo também no inverno pela falta de frio, isso causou um transtorno na pecuária principalmente devido à transmissão da tristeza parasitária”, explica o veterinário Ivo Kohek Júnior, do Programa Estadual de Sanidade Ovina e Doenças Parasitárias da Secretaria de Agricultura. O parasita começa a aparecer em maior quantidade na primavera. As larvas, que estão nas pastagens, sobem nos bovinos e caem novamente no pasto para novas posturas. Assim, nasce uma “segunda geração”, que irá infestar os bovinos no verão, em janeiro e fevereiro. A terceira geração surge no outono.

Para o veterinário, um dos principais equívocos que o criador comete ao tentar controlar o parasita é comprar um produto que não esteja de acordo com a sua necessidade. O controle baseia-se principalmente em carrapaticidas aplicados por meio de banhos de imersão, aspersão, pour on (via dorsal) ou injeção. Inibidores de crescimento do parasita também podem ser encontrados no mercado. No entanto, Kohek adverte que o carrapato que está no animal representa uma parcela mínima da população do parasita, já que a maioria encontra- se no solo.

Especialista no tema, o pesquisador João Ricardo Martins, do Laboratório de Parasitologia do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), recomenda que o criador avalie a sensibilidade dos carrapatos em relação aos carrapaticidas. “Com base nisso, ele vai traçar as medidas de controle”, explica. O pesquisador aponta que a falta de novos ingredientes ativos no mercado é considerada um gargalo, ao mesmo tempo que o manejo incorreto favorece a presença do parasita. “Existe um aumento no índice de resistência e, consequentemente, o produtor tem que fazer mais tratamentos. Se ele utilizava cinco tratamentos, nesse período vai utilizar seis ou sete”, exemplifica.

A preocupação crescente com o parasita levou o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-RS) a organizar um seminário sobre o tema, previsto para ocorrer durante a próxima Expointer, em Esteio. Para o vice-presidente do órgão, José Arthur de Abreu Martins, um dos prováveis motivos para o aumento da incidência é o fato de que “o Estado não tem sido muito efetivo” nesta questão. Outro fator apontado por ele é que muitos produtores fazem uma subutilização dos produtos, o que pode levar a consequências desastrosas. “Um banho carrapaticida, com dosagem errada, a médio prazo vai levar a uma resistência (do carrapato). Muitas vezes o próprio produtor nem se dá conta disso”, adverte o veterinário. O prejuízo para o produtor é ainda mais significativo em tempos de valorização da carne bovina. As perdas, no entanto, não ficam restritas à carne. “O couro bovino de gado europeu é muito mais valorizado. No momento em que está todo picado, ele perde um valor absurdo”, acrescenta José Arthur.

Uma das esperanças do setor é que a indústria de medicamentos trabalhe no reconhecimento de novas moléculas, que possam levar a novas ferramentas de controle. O custo elevado, porém, é um ent r a v e ao desenvolvimento desses produtos. O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, admite que a indústria não tem conseguido aproveitar a molécula o tanto quanto gostaria, mas alega que o aparecimento da resistência do carrapato aos produtos devese “ao alto nível de utilização e à possibilidade de subdosagem”. Para Salani, nenhuma propriedade do país pode tratar qualquer parasita sem “tratar estrategicamente os animais, precisando ou não”. “O que nós entendemos é que temos que partir para uma nova ordem, que é utilizar moléculas, tentar não subdosá-las e trabalhar com um programa, define.

Clique aqui para acessar a matéria na página.