JORNAL VALE DOS SINOS | OPINIÃO | PÁGINA 9
* Rodrigo Lorenzoni
Feliz a nação em que a liberdade de opinião e votos está garantida, por mais desinformada que seja. Todos são livres, dentro do respeito à lei, para dizer o que pensam, ainda que seja um ataque despropositado a pessoas, instituições e carreiras profissionais. Esta semana, neste importante periódico, a Medicina Veterinária foi ofendida de forma gratuita e injustificada. Seriam os médicos veterinários pessoas do mal? Para o autor do texto em questão, tratam-se de profissionais imorais, ou amorais, que “estupram fêmeas” bovinas e suí¬nas com a inseminação artificial, e que promovem “castrações sem analgésicos”, agindo como carrascos em “campos de concentração”. A vilania do veterinário seria tão grande, que impróprio seria usar do nome de médico associado à profissão.
A reação nos meios acadêmicos e profissionais com o artigo foi de total perplexidade. É certo que o ativista e historiador desconhece que a profissão é responsável por milhares de empregos, diretos e indiretos. Que sem a veterinária não teríamos alimentação de qualidade à mesa de milhões de brasileiros e também nas centenas de países que importam o produto nacional. E que a segurança alimentar do mercado pecuário gera bilhões em riqueza nacional, suficiente a dar uma vida melhor à população. Ou então que é o veterinário quem atende e cuida dos animais de estimação, contribuindo com o mercado que mais cresce economicamente no Brasil. Sem a pesquisa das ciências veterinárias viverí¬amos entre pestes, pragas e doenças fatais, que no passado dizimaram populações inteiras.
Atacar o veterinário dizendo que ele é insensível com a agonia dos animais é realizar o mais irreal e demagógico discurso. Pois tudo o que a veterinária realiza é reduzir seu sofrimento. Para tanto é responsável por adequar a cadeia produtiva, visando minimizar a dor ou o desconforto dos animais. Os cuidados com bem-estar são objeto de preocupação desde a produção de ovos, passando pela coleta do mel e leite, até o abate de grandes animais. Mesmo as pesquisas em aprimoramento genético são realizadas com o mais atento apuro ético.
Sem a Medicina Veterinária haveria o sofrimento não somente animal, mas sobretudo o humano.
Não somos apenas médicos, somos cidadãos e agentes de saúde. Respondemos pelo alimento que nos serve e pela livre economia, que permite a existência de críticas obscurantistas como esta. Respeito é bom, e conhecimento é melhor ainda. E amanhã, quando alguém lhe desejar saúde, saiba que está contando com nosso trabalho.
* Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMVRS)