Os casos de abigeato que se multiplicam a cada dia assustam quem vive no interior do Rio Grande do Sul. As paisagens bucólicas de outrora, onde se reunia gente simples em torno de uma boa conversa, hoje concentram depoimentos de medo e traumas incuráveis. Para quem vive no campo, tendo a pecuária como ganha-pão, encontrar um animal morto – carneado em pleno pasto – aterroriza, causa prejuízo e uma sensação de impotência e incredulidade. Os bandidos chegam a levar lotes inteiros ou interceptar caminhões nas estradas. Como chegamos a este ponto?
As grandes cidades recebem muita atenção, pois casos de violência contra as pessoas são mais graves e causam impacto na vida de todos, com a sensação de falta de liberdade para a realização de atividades simples, como um passeio em uma praça. Entretanto, os danos patrimoniais não são o único problema, no caso do abigeato. Fica o trauma pessoal das famílias vítimas dos bandidos e um rastro de problemas de saúde pública.
A carne oriunda do abate de animais roubados não tem garantia nenhuma sanidade. Como não passa por estabelecimentos inspecionados, o produto pode conter doenças, lesões e contaminações. O animal é morto no campo, transportado em veículos clandestinos, no meio da sujeira, e em temperatura inadequada. A principal diferença que o consumidor pode perceber na hora de comprar um produto que não vem com “etiqueta” é o preço. Desconfie ao encontrar carne muito barata e em estabelecimentos que não demonstrem condições mínimas de higiene.
A população precisa entender a ligação direta que existe entre as saúdes animal e pública. Mais de 70% das enfermidades em humanos surgidas desde a década de 1940 têm origem animal. E isso ocorreu por causa do trânsito intenso de pessoas e produtos. Por tanto, observar a procedência e a qualidade do que consome – e não apenas o preço – é medida fundamental para garantir a segurança na alimentação e, infelizmente, é o pouco que está em nossas mãos.