ZERO HORA | ECONOMIA | PÁGINA 14
Produto impróprio para consumo era revendido no Estado. Seis pessoas foram presas em operação em sete cidades
Fabricantes e distribuidores de queijo foram alvos da terceira fase da Operação Queijo Compen$ado, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MP) ontem em Porto Alegre e outras seis cidades de norte, noroeste, serra e região metropolitana do Estado. Conforme as investigações, empresários recolocavam no mercado queijos estragados, mofados e com data de validade vencida, contendo, inclusive, coliformes fecais e contaminados por bactérias da espécie staphylococcus (responsáveis por formação de coágulos no sangue e infecções).
A ingestão desses alimentos pode causar náuseas, vômito, dor de cabeça e diarreia, apontou laudo do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), vinculado ao Ministério da Agricultura. A ação atingiu a Laticínios Luza, a Latteria Alimentos, a Taurino Latinícios, a Reinaldo Perera ME e a distribuidora Mauro Strapazzon.
Segundo Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, promotor de Justiça da Especializada de Defesa do Consumidor, o queijo impróprio para consumo era limpo por funcionários, rotulado com nova data de vencimento e revendido para todo o Estado e até São Paulo. Quando a limpeza não era suficiente para dar ao alimento aspecto comercializável, o produto estragado era desmanchado e misturado ao queijo em produção. Também seriam adicionados amido de milho, soda cáustica e água oxigenada para mascarar a colocação de leite abaixo do exigido pelas normas da indústria e combater acidez e bactérias.
– Nada se perdia. Os produtos estragados eram maquiados e reaproveitados. Os fabricantes colocavam rótulos de empresas do Paraná e de Santa Catarina, que, provavelmente, nem sabem do esquema, e revendiam. Uma gráfica imprimia esses rótulos – contou Bastos.
ESTIMATIVA DE SONEGAÇÃO FISCAL ULTRAPASSA OS R$ 2 MILHÕES
Seis pessoas foram presas (confira relação no quadro ao lado), oito estão proibidas de acessar as empresas e 13 veículos usados para o transporte foram apreendidos nas cidades de Constantina e Sarandi, no Norte, Antônio Prado e Carlos Barbosa, na Serra, Tenente Portela, no Noroeste, Canoas, na Região Metropolitana, e Porto Alegre. Além disso, 17 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, alguns deles em uma distribuidora com sede na Capital em nome de Mauro Strapazzon, onde mais de uma tonelada de queijo foi inutilizada. Ao todo, ontem, mais de 20 toneladas de produtos impróprios para consumo foram apreendidas e a estimativa de sonegação fiscal dessas companhias ultrapassa R$ 2 milhões.
– Tem mais gente envolvida. Vamos estudar o que será feito a partir de agora com essas empresas – disse Bastos.
Os responsáveis pelas companhias deverão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em produtos alimentícios e falsificação de rótulos, pois em algumas embalagens constam CNPJs, razões sociais e cidades de origem inexistentes.
– Não consumam essas marcas. Não tem como confiar nas informações que estão rotuladas – orientou o promotor.
Em nota, o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), apoiou a ação.
Venda clandestina
Conforme as investigações do Ministério Público Estadual (MP), a Laticínios Luza e a Reinaldo Perera ME, que fabrica o queijo da marca Val Paradiso, têm somente selo do Serviço de Inspeção Municipal, ou seja, apenas podem comercializar seus produtos dentro dos seus municípios. No entanto, essas empresas vendiam clandestinamente em diversas cidades, principalmente na região metropolitana de Porto Alegre, Vale do Sinos e Litoral Norte.
A Laticínios Luza, por exemplo, distribuía mensalmente para a região metropolitana de Porto Alegre cerca de cem toneladas de queijo por meio de um depósito clandestino em Canoas. Foram encontrados nessa empresa galões de água oxigenada. A Luza levava os queijos duas vezes por semana para Canoas. Batedores iam na frente verificando se havia fiscalização. O MP investiga possível omissão da vigilância sanitária do município de Constantina. Apenas a Taurino, cujo mercado consumidor é, em sua maioria, São Paulo, foi interditada, devido às precárias condições de higiene.
Alerta de fiscal
Nas gravações telefônicas interceptadas pelo Ministério Público foi flagrado um fiscal veterinário municipal de Antônio Prado alertando um investigado sobre a operação. Eduardo Bettoni vai ser interrogado terça-feira por possível envolvimento no esquema. Nos áudios, ele questiona Moisés Beltrame, dono da Latteria Alimentos, se “está tudo limpo” na empresa, pois haveria inspeção na cidade.
– Isso é inadmissível. Um funcionário da prefeitura dando guarida a uma atividade criminosa – salientou Mauro Rockenbach, promotor de Justiça da Especializada Criminal.
QUEM FOI DETIDO
-Sérgio Marques, proprietário da Taurino Laticínios (Queijos Taurino), de Tenente Portela
-Moisés Beltrame, dono da Latteria Alimentos (Queijos Latteria), de Antônio Prado
-Reinaldo Perera, dono da Reinaldo Perera ME, que fabrica o queijo da marca Val Paradiso, de Carlos Barbosa
-Rodrigo Luza e Denir Luza, sócios da Laticínios Luza (Queijos Luza), de Constantina
-Jorge Arbo, que estava limpando, em Canoas, queijo estragado fabricado pela Luza
CONTRAPONTOS
O QUE DISSE PAULO ROBERTO MAFFESSONI, ADVOGADO DA LATICÍNIOS LUZA
É uma surpresa para nós. Não se trata de queijo compensado, tanto que a empresa tem autorização do município para funcionar. Meu cliente não agiu com dolo. Vou tomar conhecimento da ação e apresentar a nossa tese.
O QUE DISSE MAURO STRAPAZZON, DONO DA DISTRIBUIDORA MAURO STRAPAZZON
Comprei uns queijos do Denir, da Luza, mas pouca coisa (MP inutilizou mais de uma tonelada). Revendia porque ele disse que estava legalizado. Mas parei. Está errado. Não tem mais como vender.
O QUE DISSERAM LATTERIA ALIMENTOS, TAURINO LATICÍNIOS E REINALDO PERERA ME
Foi tentado contato, sem sucesso.