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01/12/2016 – Revista feed & food: Todos na luta contra a fome

REVISTA FEED & FOOD

Durante a programação do V Congresso e Feira Brasil Sul de Avicultura, Suinocultura e Laticínios (Avisulat), os holofotes do primeiro dia estiveram sobre as palestras magnas do evento, mais precisamente ajustados sobre a diretora Geral da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), Dra. Monique Eloit. Todos estavam ansiosos pelo seu discurso, e não era por menos. Era a primeira vez que ela pisava no Estado do Rio Grande do Sul.

O enfoque da apresentação de Monique mirou o fortalecimento dos serviços veterinários nacionais, e como a OIE, a partir do desenvolvimento de ferramentas e programas, vem ajudando os países, principalmente os mais frágeis, a tornarem suas estruturas mais robustas. “E todas essas atividades são realizadas, principalmente, graças ao sustento financeiro dos países membros, particularmente aqueles mais avançados, e isso me dá hoje a oportunidade de agradecer o Brasil pelo apoio significativo, essencialmente para os países membros da América”, discursou.

Mais adiante, o discurso de Monique beirou a produção de alimentos, puxando o foco central para o papel que a atividade desempenha na sociedade, tendo uma ligação direta com a luta contra a fome e pobreza. Hoje no mundo, cerca de 1 bilhão de pessoas não acondicionam no prato um grão de arroz, carne, ou de qualquer alimento. O desafio da fome no mundo, contou a diretora, não é assim tão ligado com a questão de quantidade de produção, na realidade, a razão principal é que a grande maioria das pessoas não tem acesso a uma alimentação barata. “É por isso que a estruturação do sistema alimentar mundial é uma questão essencial e urgente”.

E em rotação com essa preocupação global, o desafio vai além quando pensamos em 2050. Enquanto a população mundial cresce, há outros obstáculos, como a globalização e mudanças climáticas. E ao mesmo tempo, todas essas forças devem ser enfrentadas, no momento em que as discussões sobre o uso de antibióticos se alarga pelo mundo. “Acontece que vários países, principalmente os em desenvolvimento, não têm uma legislação, outros, possuem leis muito fracas, e não conseguem verificar de forma segura as condições de importação, produção e distribuição de medicamentos veterinários. É aí que a colaboração internacional empenha seu papel”.

O conceito One Health está no alto das prioridades da OIE, e o órgão curva toda sua experiência para ajudar nações a desenvolverem seus planos nacionais de vigilância e de uso prudente dos medicamentos veterinários. Ao tocar neste ponto, Monique lançou um convite aos participantes: “Gostaria que vocês se engajassem e entrassem no site da OIE para conhecer nossa estratégia em relação a este assunto”.

Ainda sob a luz desse assunto, hoje há muitos desafios diluídos nas produções e bastantes delicados. De acordo com Monique, é necessário reconhecer que, durante muito tempo, os políticos não consideraram esse campo de produção de alimentos como um assunto prioritário. “Quando a gente vê as cifras, ficamos espantados de ver a fraqueza nos orçamentos, que foram dados ao o setor nos últimos anos”. Segundo a OCDE, explicou, nos últimos dez anos a parte dedicada ao desenvolvimento da agricultura progrediu muito pouco. O setor de criação, por exemplo, recebeu apenas 2%, e para ela, esse número não é nada quando colocado na mesa a importância do setor em matéria de nutrição, de luta contra a fome e desenvolvimento econômico para milhões de pessoas.

E se os gráficos não convencem, Monique contou que há outro meio de mostrar essa realidade às autoridades, apresentando a relação anual dos serviços veterinários para
controlar as doenças. “No ano passado, 15 Estados dos EUA e 232 companhias foram afetados pela Influenza Aviária. Foram 50 milhões de aves abatidas. E isso custou US$ 900 milhões unicamente para eliminar os animais, e isso não conta as perdas indiretas comerciais”, salientou. O exemplo foi unicamente para demonstrar que uma situação sanitária frágil pode desestabilizar a economia de um país. “Insistam na prevenção”, alertou.

Então, para melhor se preparar em caso de emergências ou reincidência de doenças, Monique elencou três elementos que devem ser levados em conta. Primeiro é a noção do bem público, preservando os investimentos no campo da produção e controle de doenças. O segundo é o conceito de uma só saúde, que visa fortalecer a cooperação entre os setores veterinários e o da saúde pública, e o por fim, as relações políticas comercias, para que se possa ter um equilíbrio nas exportações e uma força para evitar barreiras sanitárias ilegítimas. “A resolução desses três objetivos necessita de uma rede de vigilância em conjunto no território”, destacou.

Uma base estruturada do serviço veterinário, juntamente com contribuição do setor de proteína animal para a segurança alimentar, foram elementos grifados pela diretora da OIE. Para ela, a parceria público-privada é uma relação importante e indispensável. “Com base na minha experiência de anos, eu posso afirmar hoje que não podemos pensar em uma atividade eficaz sem uma relação estruturada com o setor privado. E o setor profissional privado não pode se desenvolver sem uma área pública forte. Portanto,
essa relação é essencial. Não é sempre fácil, mas qualquer que for a dificuldade é preciso trabalhar para que essa parceria seja estruturada e realmente aconteça”, disparou.

No Brasil, o controle de enfermidades, na visão de Monique, é bem resolvido. De acordo com ela, o País tem várias vantagens, principalmente uma boa governança do setor público com o privado, relação que permite uma legislação eficiente.“Isso faz com que todas as medidas de segurança tenham sempre uma fiscalização e autenticação por parte das autoridades”, finalizou.

O EVENTO. Na grade de programação do Avisulat, realizado no Centro de Eventos da Fiergs em Porto Alegre (RS), mais de 80 assuntos foram discutidos entre os dias 22 e 24 de novembro; uma somatória de aproximadamente 105 horas de conhecimento. Pelos corredores, mais de cinco mil visitantes circularam no evento e cerca de 2.300 congressistas imergiram nos conteúdos, de acordo com a organização.

O encontro, promovido pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do RS (SIPS) e Sindicato de Laticínios e Produtos Derivados do RS (Sindilat), além de debater as demandas dos setores e divulgar trabalhos e pesquisas da comunidade científica, também foi palco de apertos de mãos. Ao todo, os expositores nacionais e internacionais movimentaram US$ 22 milhões em expectativas de negócios para os próximos 12 meses. Na avaliação do coordenador Geral do Avisulat, José Eduardo dos Santos, reunir a cadeia de três setores em um ano desajustado na economia e política, se confira como uma vitória. Segundo ele, a edição de 2018 já está na agenda da organização.

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